Um banheiro.
Já havia se tornado costume. Todos os dias, por volta das seis horas ele sempre ia ao banheiro, sempre no mesmo horário. Cada pequeno detalhe na sua vida era perfeitamente encaixado junto aos outros pequenos detalhes, cada detalhe com tudo programado, principalmente os horários: hora de beber água, comer, ler, ir cagar, transar, descansar, sair, mentir, drogas, garotas e por ai ia, tudo programado. Sua rotina diária nunca mudava e isso o agrava bastante.
E durante todos os dias da semana que ia ao banheiro ele sempre via aquele garoto saltitante, magro, com traços delicados e gestos afeminados. Todos os dias ele via o carinha, ora lavando as mãos, ora mijando, ou se olhando no espelho com uma expressão estranha ou simplesmente parado olhando lascivamente para quem entrava nos seus domínios, olhar esse que não o agradava nenhum um pouco. Na verdade o deixava puto, muito puto mesmo. Não suportava aqueles olhares e ficaria realmente muito irritado se essa atração que ele sabia que exercia sobre o carinha avançasse um estágio e se transformasse em palavras. Ele não aguentava aquele olhar e palavras seriam ainda mais irritantes. Pensou em mudar, ir ao outro banhiro da universidade, mas mais dolorosa e insuportável era a idéia de mudar sua rotina.
E esse teatro ridículo se repetia dia após dia e estava quase entrando conseguindo o status de rotina, quando certo dia ele chegou ao banheiro por volta das seis e o garotinho não estava dentro do banheiro como de costume, e sim na porta do banheiro com uma expressão alegre estampada na cara, um jeito infantil, como uma criança que fez algo que não devia e ria-se por dentro por tê-lo feito.
Entrou no banheiro e a primeira coisa que sentiu foi um cheiro de merda insuportável que pairava no ar. Encontrou o segurança, um homem gordo, grande de traços e movimentos brutos. O segurança estava parado perto da pia lavando as pernas que estavam cobertas de bosta, marrom e pegajosa como bosta é. Ao perceber a presença de mais alguém no banheiro, o segurança babuciou meio sem jeito:
-É, me caguei. Não consegui segurar, foda!
Depois de tudo que tinha visto nas últimas semanas, ele não tinha dúvida do que havia aconteceido, e apenas disse:
-Eu sei cara, sei o que rolou. Pode ficar tranquilo, não vou dizer pra ninguém.
- Como assim? - replicou o segurança assutado.
- Não contar pra ninguém que vc rasgou o cu daquele baitolinha e agora ta ae, todo lambuzado de merda. Se preocupa não, mas pelo menos da róxima vez se não fode o menino de novo, não aguento esse cheiro de bosta espalhada pelo chão.