quarta-feira, maio 20, 2009

A coisa.

Não sabia bem por que ainda criava aquela coisa. Comeaça a feder, se tornava cada vez mais peluda e asquerosa. Sua presença se tornara incômoda ao longo do tempo, a aparência não já não atraía mais. E como fedia, oh, puta merda, era demais. Aquala jaulinha no canto do seu mais íntimo cômodo exalava sua presença por metros a fio, atravessando cimento, carne, controle e vontade.

Mas tal incomôdo era suportável, era apegado àquilo: não sabia se construíra isso e reafirmava com frequência ou se isso possuia vida independente, completamente desassociada de sua vontade. Não se importava, apenas mantinha aquilo lá. Por vezes achava que so a mantinha por vontade, por vezes queria se livrar e conseguir um mais novo, algo que trouxesse interesse ao seus dias: a velha atração acendida pela novidade. Era bom.

Tentou, mas não funcionou. Logo lembrou-se de todo o processo de envolvimento que se debruça pelo tempo, todos seus pequenos movimentos e direções eram programados, previsíveis e dolorosamente repetitivos. Claro, estava lá a novidade com suas expectativas e tudo mais, mas dentro do mesmo padrão minucioasamente analisado em experiências anteriores.

Já tinha criado um antes. Esse segundo apenas reafirmava a repetição das coisas.

Então, resignava-se a continuar assim. E o deixava lá, triste e sujo, com um leve relance da magnificência que um dia tivera.
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