Janelinhas, Janelinhas...
Sai me escondendo do sol nas poucas sombras que encontrava no caminho. Ainda tava bem levezinho do mafu que degustei na casa do Satã. Tinha esquecido de almoçar e agora zigue-zagueva pelas ruas até chegar ao supermercado. Entrei pela frente, ignorando o acesso mais direto pela lateral. Ar condicionado, pessoas e mais um monte de coisas amontoadas no meu campo de visão. Tirei os óculos escuros para não parecer anormal - o típico pesamendo nóia - o mesmo óculos que tinha por razão de ser ali esconder justamente a loucura. Não tinha ninguém de óculos escuros ali dentro e pensei, realmente vai parecer estranho e merda, tirei e segui em frente, aos fundos da loja. Lembrei do velho selfservice que me salvava em domingos de ressaca largado em casa, mas a comida servida ali ao meio-dia agora já não pareceia tão atrativa e saborosa.
Dei uma sacada nos sushis e lembrei de avisos de conhecidos do bairro pra não comer nem frios ou sushi, pois o local tinha os bastidores um tanto quando imundo. Famindo do jeito que tava, aquilo era minha única opção. Escolhi umas e outras peças e recebi os saches de molho shoyo. (não sei pra vocês, mas isso me pegou de surpresa) e fui me sentar. Não tinha ninguém por lá, só um cara ajeitando alguns papéis, cadeiras, mesas, e rua lá fora. Terminei os sushis e voltei pro balcão pra pegar um salgado pra terminar o serviço. Colunas e colunas de salgados sorrindo pra mim atrás do vidro. Chego pra fazer o pedido mas não tem ninguém atrás do balcão. Olho pro lado e vejo dois funcionários no caixa conversando com a moça da máquina registradora e eles me olham com uma cara de "isso não é comigo não" e continuo parado, encarando os salgados, pensando no gelo derretendo na minha coca cola e decidido não falar nada pra não parecer chato. Outra moça entra atrás do balcão, pergunto se ela pode me ajudar mas ela me dá um displicente "peraí" e sai fora. Só então das moças na conversa percebe o que está acontencendo e volta com um "diga meu filho" e me sinto novamente com pouco mais de uma dezena de anos nas bodegas do bairro sendo mal atendido por velhos rabugentos. Aponto para um salgado que julgara ser de queijo e presunto, mas era calabresa. Decidi por esse salgado, mas ainda perguntei sobre mais outros três, só pra fazer ela ter o trabalho falar um pouco. Era o mínimo que podia fazer pelo minha espera despropositada. Peguei o salgado e voltei pra mesa e comecei a mastigar aquele pedaço de massa.
E foi ali enquanto mastigava aquele salgado duro, depois de ter almoçado 7 peças de sushi, que percebi que tudo que eu tentara até aquele momento havia fracassado(...). E isso às 3 da tarde de um dia qualquer de junho, um pouco mais de um mês de completar meu 28º ano. Não é o lá o mais feliz dos pensamentos pra se ter encarando aquele céu azul, mas foi o que me veio à cabeça. Imaginei aquela como minha última refeição e pensei no que eu havia conseguido finalizar com sucesso até então. Nada além de jogos de vídeo-game. Não seria uma despedida muito feliz. Adoraria narrar um espantoso momento epifânico, mas não possuo a habilidade pra tanto e também não foi o caso. Apenas parei ali, olhando o céu pelas janelas de vidro, tomando consciência do fato.
Dei uma sacada nos sushis e lembrei de avisos de conhecidos do bairro pra não comer nem frios ou sushi, pois o local tinha os bastidores um tanto quando imundo. Famindo do jeito que tava, aquilo era minha única opção. Escolhi umas e outras peças e recebi os saches de molho shoyo. (não sei pra vocês, mas isso me pegou de surpresa) e fui me sentar. Não tinha ninguém por lá, só um cara ajeitando alguns papéis, cadeiras, mesas, e rua lá fora. Terminei os sushis e voltei pro balcão pra pegar um salgado pra terminar o serviço. Colunas e colunas de salgados sorrindo pra mim atrás do vidro. Chego pra fazer o pedido mas não tem ninguém atrás do balcão. Olho pro lado e vejo dois funcionários no caixa conversando com a moça da máquina registradora e eles me olham com uma cara de "isso não é comigo não" e continuo parado, encarando os salgados, pensando no gelo derretendo na minha coca cola e decidido não falar nada pra não parecer chato. Outra moça entra atrás do balcão, pergunto se ela pode me ajudar mas ela me dá um displicente "peraí" e sai fora. Só então das moças na conversa percebe o que está acontencendo e volta com um "diga meu filho" e me sinto novamente com pouco mais de uma dezena de anos nas bodegas do bairro sendo mal atendido por velhos rabugentos. Aponto para um salgado que julgara ser de queijo e presunto, mas era calabresa. Decidi por esse salgado, mas ainda perguntei sobre mais outros três, só pra fazer ela ter o trabalho falar um pouco. Era o mínimo que podia fazer pelo minha espera despropositada. Peguei o salgado e voltei pra mesa e comecei a mastigar aquele pedaço de massa.
E foi ali enquanto mastigava aquele salgado duro, depois de ter almoçado 7 peças de sushi, que percebi que tudo que eu tentara até aquele momento havia fracassado(...). E isso às 3 da tarde de um dia qualquer de junho, um pouco mais de um mês de completar meu 28º ano. Não é o lá o mais feliz dos pensamentos pra se ter encarando aquele céu azul, mas foi o que me veio à cabeça. Imaginei aquela como minha última refeição e pensei no que eu havia conseguido finalizar com sucesso até então. Nada além de jogos de vídeo-game. Não seria uma despedida muito feliz. Adoraria narrar um espantoso momento epifânico, mas não possuo a habilidade pra tanto e também não foi o caso. Apenas parei ali, olhando o céu pelas janelas de vidro, tomando consciência do fato.