Quinto dia.
Juro que parei no pitombeira pra almoçar e não imaginei que passaria as próximas seis horas e meia com o rabo sentado numa cadeira enchendo a cabeça de cerveja. Estava vindo do outro lado da cidade depois de conhecer meus mais novos alunos de 10 e 12 anos (puta merda, eu mereço) e parei ali pra almoçar e me preparar para o que vinha pela frente. Só não contava em encontrar o capoeira por lá.
Fui pra sua mesa, me sentei e pedi o almoço. Ele tomava uma campari. Só conheço um cara que gosta de tomar isso e ele toma por que é ruim o suficiente pra ninguém pedir um gole. Não é a toa que esse cara é o maior filão que conheço. Já curti noites com ele sem gastar um centavo, nem com bebida bem com cigarros, tudo fruto da sua sutil arte - que hoje em dia anda um tanto quanto desgastada - de filar, sempre seguindo sua ética e com um sorriso no rosto. Segundo ele, um sorriso é batata pra filar cigarros de bichas e isso realmente funciona. Acho que o cabelo liso e o narigão que imprimem nele um ar argentino sempre ajudaram na filância. De toda maneira, logo que terminei o almoço bateu uma sede e vi que tinha ainda 10 minutos. Resolvi convidar o capoeira pruma cerva. uma não, 3, nunca ninguém toma apenas uma e nunca gostei de terminar cervejas em números pares.
É de certa forma estranho dizer que você tomou um cerva em um bar como o pitombeira com um doutorando em linguística, quando esse mesmo doutorando bebe pra caralho e quando notei, tinha mais de 20 cascos de cerveja sobre a mesa e mais duas pessoas sentadas e mais cascos no chão. Ficamos nesse durante a tarde, bebendo, falando mal do departamento de literatura da ufc, destilando ideias loucas baseadas em teorias da linguagem e semiótica, mulheres e bebida. Um bom papo, tenho que dizer. E em algum ponto nessa tarde pensei que sim, eu minto, já menti e que não me orgulho muito disso. Mas nucna menti com o intuito de enganar, de ludibriar alguém... acho que posso classificar todas minhaaprs mentiras no grupo da omissão, e não como algo usado pra algum fim específico, o que me fez ficar um pouco puto com certas coisas que acontecem e sentir vontade de fuder com tudo, mas fuder bem direitinho, mas qual o ponto disso mesmo? resolvi me levantar e ir embora.
Momentos depois me vejo no interfone do apartamento do Velho Leon falando em espanhol e pedindo pra ele desces, afinal, depois de tanta cerveja e especulação, me via na necessidade de conversar, botar pra fora tudo que me aperta esse peito um pouco cansado de tudo isso e me senti em um romance da Agatha Christie tentando descobrir o culpado...
Enfim, e acabei aqui. Vou seguir o plano, apesar dos deslizes aqui e acolá. Culpe o álcool, é o que eu faço.