Ardor.
- E ae ,rapaz, vai desistir agora, né? - era o que saia da boca do gorducho que com prazer balançava o maçarico de um jeito que seria amistoso, se aquilo não fosse um maçarico. O cara não respondia nada. Amarrado na cadeira não sentia muita vontade de falar.
- Ô, se é assim que continuearemos, é assim que vou a forra!
- Ô, se é assim que continuearemos, é assim que vou a forra!
Com a calma de um cirurgião mestre, moveu a mão para lado esquerdo e alcançou um fino bastão de ferro pontudo. Com o maçarico, fez a cor vibrar pra um vermelho vivo, luminoso. E começou riscar, enfiar e brincar na pele dele. Enquanto aquele cheiro de queimado agradava suas narinas, o outro se contorcia em dor, gritando, gemendo e esperniando como um porco sendo açoitado.
- Uoou, essa foi boa, to ficando bom nisso. Se tivesse um espelho ia te mostar, uma belezinha, quase simétrico! - gargalhava. - E agora, vamos lá ou vou ter que acender outro?
Sua bunda dormente jé nem incomodava mais, o que sentia mesmo era estar ali. A dor proporcionada era intensa e pronfuda ao ponto de prender suas cordas vocais, impedindo qualquer grito.
- Olha rapaz, isso não vai longe. Você nem faz idéia o que vou usar de papel agora. – isso dito com olhos nos olhos e os olhos dele não pareciam mentir com frequência.
Na cadeira, apenas baixou o olhar encarando o chão ao redor dos seus pés, observando a poça de urina que agora ganhava tons rubros e tentou imaginar onde doeria. Não demorou mais do o que o necessário pra concluir seu pensando e descobriu. Realmente falava a verdade, nunca havia expereciando dor tão intensa como aquela, sim, sim, aquilo ampliou seus horizontes de percepeção. Não ouvia nem as risadas do gordo que o observava se contorcer, não havia nada no seu mundo além de dor, dor, dor.
Sentir sua baba descer pelos contos da boca lhe trouxe de volta com uma espécie de alívio.
- Bem rapaz, tivemos uma ótima amostra do que pode vir pela frente. Devemos continuar?
- Bem rapaz, tivemos uma ótima amostra do que pode vir pela frente. Devemos continuar?
Continuava a achar aquilo irreal. Apesar de ver, sentir, cheirar aquilo tudo, se recusava a acreditar, that wasn't happening; simplesmente não parecia parte do script, ou algo do tipo. A dor estava lá, latejante e sempre presente. Era tudo.
- Não vale a pena, você sabe disso. Dói demais! - disse com toda a ternura que sua figura grotesca permitia - Essa não é a primeira vez que nos encontramos, você sabe o que fazer. É só deixar sair entende? Desitir, ir em frente, tentar de novo. - Se afastou um pouco, dando as costa pra cadeira e com a mão livre coçou a cabeça como se ponderasse algo - Por que você não deixa isso pra lá? Sabe que não vale a pena resistir tanto, sabe que dor vai tomar conta de tudo e no fim, não vai restar nada a não ser a lembrança de o quanto isso doeu.
Sentado na cadeira, apenas abaixou a cabeça esperando pela próxima pontada.