sábado, fevereiro 18, 2006

"O Último Caso de Edgar Borges"

" olha moço, ele nem tava mais afim de vir aqui. Fazia semanas que ele estava perdido nos próprios problemas, princpalmente com a ex-mulher..." foi o que a tia dele me disse quando fui vê-la. Mais ou menos igual a que todos disseram. É, já fui em todos os lugares possíveis que ele poderia estar e não o encontrei, agora só me resta os outros lugares improváveis que ele possa estar, isto é, qualquer lugar.

Sem muitas opções, fui em direção da casa do velho Mendes, talvez ele tivesse algo de bom pra me dizer . Em 15 anos nesse submundo bosta ele havia me dado informações valiosissímas. Não éramos bem amigos, na verdade eu detestava aquele velho asqueroso. Nada contra sua pedofilia, mas os requintes de crueldade inclusos nas suas pequenas diversões me davam um certo nojo. Mas ele era o cara que eu sempre precisava, ele era o cara que tinha os contatos. Ele sabia tudo. Acho que ele ganharia mais fazendo meu serviço.

Parei em frente ao edifício de seis andares naquele bairro comercial. Ainda era cedo, via algumas luzes acessas mas não a dele. Mas ele nunca saia. Em malditos 15 anos nunca ninguém o viu fora daquele quarto fedorento.

Apertei o seu número no interfone. 305. Não havia o número no botão, havia se apagado como tempo. O velho mantinha-se ocupado. Apertei a segunda vez e continuei sem a respota. Não havia porteiro e não podia ir embora, ele era minha última fonte e se estivesse seca, eu so teria uma única opção: ir para casa e encher a cara até eles me pegarem. Mas como não queria ser pego apertei mais uma vez.

Não esperei pela resposta, dei a volta e pulei o muro dos fundos. Estava tudo muito quieto e a porta dos fundos do prédio estava aberta. Entrei e subi as escadas. Tenho pânico de elevador e eles sempre demoram demais. Após 6 lances de escada, estava estacionado em frente aquela porta marrom com o olho de vidro no centro. Apertei a campanhia e esperei. Já estava ficando cansado de esperar.

Como todas as outras vezes, não houve resposta. Empurrei a porta e ela abriu com um rangido longo e agudo, era uma bela peça de madeira maciça e estava apenas encostada. Quando pus os pés dentro daquele apartamento senti aquele cheiro podre. Um cheiro forte, nauseante, que preenchia aquele espaço vazio como uma nuvem de chumbo. Tirei o lenço do bolso, colei no nariz e tatei as paredes em busca do interruptor para me livrar daquela escuridão.

Achei e apertei o botão. A luz brilhou no meio daquela armação de ferro e vidros pendurados bem no meio da sala deixando uma penumbra que me fez perceber que logo em baixo estava o velho Mendes, sentado numa poltrona de costas para a porta. Parei por um segundo e saquei meu velho e antigo .32, que já estava enferrujando. Na verdade nem sabia se ele estava carregado. Andei devagar fazendo um arco na sala até perceber que a real situação do velho. Ele estava largado na poltrona rodeada por papéis pelo chão, meio sentado, meio deitado com o abdomen aberto de ponta a ponta, suas tripas espalhadas pelo chão ao redor dos seus pés enquanto um bicho estranho se alimentava delas. Nunca havia visto nada tão silencioso ou estranho como aquilo. Tinha uma espécie de pele escamosa, patas grandes para o corpo e unhas grossas. Era um pouco maior que um gato e quando percebeu a minha presença soltou um grito horrível, agudo e correu para debaixo da estante.

Fim da Parte 1
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quinta-feira, fevereiro 09, 2006

you can't always get what you wanna
and if you try sometime you find
you get what you need

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