sexta-feira, julho 22, 2011

Tentativa de fuga.

Estou sentado na minha poltrona. Comprei ela a uns 5 anos atrás, por 25 reais em uma loja de usados. Perto da minha perna direita um frasquinho de alumínio como que restou dos 350 ml da vodka que os Stones bebiam em turnê. No meu quarto, sozinho, bebendo e outras milongas mais, escrevendo, ou melhor, tentando. Começo a desconfiar que a utopia de cunho beat não está funcionando.

- Conseguirá? - indagou Augustin
- Querer é poder - respondeu Violante
- Mas talvez a senhora não queira mais a mesma coisa - retrucou Augustin
- Por quê? - Violante
- Porque terá mudado - disse Augustin

É, já viu, sempre escolhendo novas vontades. Constante inconstância. Ela queima quando desce, mas então o ardor dá lugar a dormência. Maravilha de bebidinha e ainda custou metade do preço. Mercado negro, claro, há de se ter contatos. Sinto as borboletas no estômago, exatamente como aquela edição antiga dessa mesma "vodega", como diria a fornecedora. Acho que vou de novo à mesa. Ainda quero dormir essa noite.

(2) Rosto dormente, o peito queimando e o coração a mil. Sinto que queria um cigarro, mas o fato de não ter um não me incomoda. Jonh Lee Hooker me canta suas desilusões na vitrola, baixinho para não incomodar os que dormem, só eu escuto. Lembro das minhas e beberico do meu cantil, que a tanto tempo queria. Uma vontade tão velha quando a poltrona sob minha bunda. Bom ter o que se quer. Sensação agradável, troço viciante. Foda é o revés. Há de se conhecer os dois lados pr para realmente entender algo. Meu lábios também dormentes. O caderno em uma posição estranha, as linhas não mais na horizontal e sim na vertical e sinto perder o controle da mão que parece ter pressa e isso faz doer os tendões. Longo, isso é tediodo. A ação precisa ser constante ou cadenciada como no blues. E a correia parou. Penso em levantar e trocar o disco, mas preciso terminar a frase.

Sentado de novo. Desço outro gole do meu hip flask ( pelo menos esse era o nome na caixa). Mais queimação, os olhos começam a pesar e desconfio que estou me embreagando. Poltrona. Penso em contar meus pensamentos, mas o que importa? As ações é que contam, o resultado é o que ansiamos. Lembro de velhas promessas, minhas e de outros. Coisinhas mais fugazes.

Agora Wilson Pickett tolando, me sinto quase em uma festa, me sinto bem. E tranquilo, sem pressões. Agora meus dentes adormecem. Penso se o mesmo acontecerá comigo e me pego em dúvida. O mafú está ali, ajudaria, eu acho. O ideal seria um suco de maracujá pra rebater, sim, sim, ele sempre funciona e recomendo a todos, um todo restrito. Pessoas. Acho que não me dou muito bem com elas. Sinto que há uma tensão, algo como uma dicotomia amor x ódio, só pra ilustrar, entre eu e as pessoas que me rodeiam. E me sinto exatamente assim em relação à elas.

Melhor parar, isso não tá dizendo muito. É um escape, nada mais. (3) Um produto ótimo, trato, faço render. Mais um gole. Me sinto satisfeito e fecho a tampinha barulhenta sem fazer barulho. Não quero companhia nessa insônia induzida.
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