quinta-feira, junho 30, 2011

Space Oddity



Há dias que não posso evitar...
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sexta-feira, junho 10, 2011

Janelinhas, Janelinhas...

Sai me escondendo do sol nas poucas sombras que encontrava no caminho. Ainda tava bem levezinho do mafu que degustei na casa do Satã. Tinha esquecido de almoçar e agora zigue-zagueva pelas ruas até chegar ao supermercado. Entrei pela frente, ignorando o acesso mais direto pela lateral. Ar condicionado, pessoas e mais um monte de coisas amontoadas no meu campo de visão. Tirei os óculos escuros para não parecer anormal - o típico pesamendo nóia - o mesmo óculos que tinha por razão de ser ali esconder justamente a loucura. Não tinha ninguém de óculos escuros ali dentro e pensei, realmente vai parecer estranho e merda, tirei e segui em frente, aos fundos da loja. Lembrei do velho selfservice que me salvava em domingos de ressaca largado em casa, mas a comida servida ali ao meio-dia agora já não pareceia tão atrativa e saborosa.

Dei uma sacada nos sushis e lembrei de avisos de conhecidos do bairro pra não comer nem frios ou sushi, pois o local tinha os bastidores um tanto quando imundo. Famindo do jeito que tava, aquilo era minha única opção. Escolhi umas e outras peças e recebi os saches de molho shoyo. (não sei pra vocês, mas isso me pegou de surpresa) e fui me sentar. Não tinha ninguém por lá, só um cara ajeitando alguns papéis, cadeiras, mesas, e rua lá fora. Terminei os sushis e voltei pro balcão pra pegar um salgado pra terminar o serviço. Colunas e colunas de salgados sorrindo pra mim atrás do vidro. Chego pra fazer o pedido mas não tem ninguém atrás do balcão. Olho pro lado e vejo dois funcionários no caixa conversando com a moça da máquina registradora e eles me olham com uma cara de "isso não é comigo não" e continuo parado, encarando os salgados, pensando no gelo derretendo na minha coca cola e decidido não falar nada pra não parecer chato. Outra moça entra atrás do balcão, pergunto se ela pode me ajudar mas ela me dá um displicente "peraí" e sai fora. Só então das moças na conversa percebe o que está acontencendo e volta com um "diga meu filho" e me sinto novamente com pouco mais de uma dezena de anos nas bodegas do bairro sendo mal atendido por velhos rabugentos. Aponto para um salgado que julgara ser de queijo e presunto, mas era calabresa. Decidi por esse salgado, mas ainda perguntei sobre mais outros três, só pra fazer ela ter o trabalho falar um pouco. Era o mínimo que podia fazer pelo minha espera despropositada. Peguei o salgado e voltei pra mesa e comecei a mastigar aquele pedaço de massa.

E foi ali enquanto mastigava aquele salgado duro, depois de ter almoçado 7 peças de sushi, que percebi que tudo que eu tentara até aquele momento havia fracassado(...). E isso às 3 da tarde de um dia qualquer de junho, um pouco mais de um mês de completar meu 28º ano. Não é o lá o mais feliz dos pensamentos pra se ter encarando aquele céu azul, mas foi o que me veio à cabeça. Imaginei aquela como minha última refeição e pensei no que eu havia conseguido finalizar com sucesso até então. Nada além de jogos de vídeo-game. Não seria uma despedida muito feliz. Adoraria narrar um espantoso momento epifânico, mas não possuo a habilidade pra tanto e também não foi o caso. Apenas parei ali, olhando o céu pelas janelas de vidro, tomando consciência do fato.

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