Como um calango.
Me senti um calango com o humor determinado pelo clima. Lesado, preso à cama, querendo permancer no sonhar apesar de ter sonhos pertubadores, protelando o que devo fazer, arrastando meus pensamentos entre desejos e lembranças, vontadas e deveres, viagens e dores nas costas de tanto forçar a permanência na cama. Às dez finalmente consigo reunir a força necessária pra me levantar e pulo (literalmente) da cama pra ver se pego no tranco e deixo meu peso me levar escada abaixo, sem pensar nas aulas perdidas. Paro em frente à TV munido de um pacote de biscoito de chocolate e olhos ardendo e me deixo hipnotizar, a mente longe, longe mesmo... não demora muito, quer dizer, horas depois de ver um filme sem graça enquanto almoço, volto pra cama e me deixo levar novamente pela chuva que lá fora cai.
Depois encaro a chuva com a resignação necessária pra manter meu salário e chego no trabalho duas horas e meia antes, com planos de ler, aproveitar o silêncio das salas e me perder entre palavras ao invés de me deixar levar pela preguiça da minha cama. Contudo, mas o que consigo é ficar sentado no fim do corredor sentindo o vento frio e olhando pro tempo, aquela parede cinza e sem graça. E mais ou menos ai esse sentimento apático aparece e se instala Depois de tanto tempo isso vem e como algo pegajoso fica, me acompanha, me deixando lento, lento, lento, e mais uma vez, aqui, pra ver se isso passa, e deixo Neil young e Portishead tocando enquanto escrevo e aos poucos, bem aos poucos, isso vai se diluindo, se tornando menos pegajoso e começo a percerber a porra do tempo que perdi hoje.
Bem, amanhã tem mais. Tempo, eu espero.