quarta-feira, julho 28, 2010

10 por cento.

E tudo que eu queria era dar uma cagada. Tudo bem, o local não era o mais apropriado: Paladar - um dos poucos bares que estão abertos às 2 da manhã de uma terça -feira, um bar com posters de rock espalhados pela parede mas que só toca pagode e serve uma famigerada mão de vaca que ainda não tive a chance de provar. Pensando melhor nesse bar, a última vez que estive lá sai sem pagar e na anterior perdi um emprego... bem, é um bar de altos e baixos - mas essas vontades sempre aparecem nas horas mais impróprias e tudo que eu precisava era uma privada.

O primeiro sinal veio na mesa enquanto ouvia pessoas discutirem sobre as diferenças entre homens e mulheres, o pior papo pra se levar numa mesa de bar quando você já está cansado de beber e principalmente desse papo e tá apenas afim de tomar água... ai veio a primeira pontada e enquando eu contraia os músculos pra mater a merda onde ela deveria ficar - pelo menos por enquanto - reconstrui mentalmente a imagem do banheiro daquele lugar: dois mictórios e uma privada - privada! - mas desconfiava que não havia nem papel nem porta nenhuma separando eles. Era um detalhe que minha memória deixava escapar.

Sem perder as esperanças levantei e fui até o banheiro tirar a dúvida. Nenhuma porta. Nem papel higiênico. Merda, o que fazer? Sai do banheiro e olhei ao redor. Poucas pessoas, uma pia, um espelho, tolha de papel para o rosto e a porta do banheiro femino a três passos. Não pensei duas vezes: soquei algumas folhas no bolso e entrei no banheiro feminino, trancando a porta atrás de mim. Não deu nem tempo de suspirar aliviado e deixar a natureza seguir seu curso, ouço logo batidas fortes na porta. Não tive opção.

Ao abrir a porta vejo um garçom enfurecido com o dono do bar no balcão ao fundo dando suporte. Ele me diz "o banheiro masculino é ali" e eu digo "quero cagar e não tem porta" e ele repete "o banheiro masculino é ali" e digo "mas quero cagar e não tem porta" e ele diz que não é problema dele e pergunto se não há outro banheiro ali que eu possa usar, o banheiro deles e ele diz que não e fico puto com aqueole filho da puta que nega um lugar prum bêbado cagar na madrugada e digo que me recuso a cagar ali, com qualquer um olhando - até pondero a possibilidade de uma cagada relâmpago, que logo sai de cogitação - e pergunto a ele: "se tu quiser cagar, tu caga onde? e ele não me responde merda nenhuma e continuo perguntando se ele acharia legal cagar na frente de estranhos bêbados e tudo isso com um tom agressivo e enxamista. O filho da mãe continua sem me responder e outro garçom ainda ri. Tudo bem, tiro o papel do bolso, jogo no lixo volto pra mesa já sem vontade de cagar.

Pouco depois o garçom volta a mesa e abre uma cerveja que espirra molhando boa parte da galera e principalmente o Mike que já não estava nos seus melhores humores. "não vou nem olhar", ele diz, e realmente nem olha pro garçom pra evitar qualquer coisa a mais e foi bo que ele tenha feito isso, já que depois de pegar um tenente do exército bêbado e armado pela garganta você se sente pronto pra tudo. Por sorte, não me molhei e continuei sentado, esperando a noite passar. Depois de alguns minutos observando e rindo da novela que se desenrolava na mesa vizinha - uma garota meio gorda haiva pegado o namorado no flagra com outra e resolveu sentar na mesa pra conversar com os dois, dizendo coisas "não sei por que ele faz isso comigo, eu sou tão boa com ele" - pedimos a conta e o cara de pau do garçom ainda cobra os 10 por cento. Olho pra cara dele e pergunto se ele enão tem vergonha na cara. Além de me negar um lugar pra cagar, molha meus amigos e ainda quer gorjeta.

São essas coisas que me fazem querer sumir do convívio humano.



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sexta-feira, julho 02, 2010

Viados, artistas e cheiradores.

Foi na porta do banheiro que encontrou aquele figura. O conhecia de vista ali do benfica, figurinha batida naquelas bandas, fazia parte de um grupo de artistas do local. Se não me engando, atores e poetas, talvez houvesse um ou outro escritor no grupo, quem sabe. Havia bebido com ele uma vez; bem, não com ele, mas com uma galera amiga da amiga que ele acompanhava naquele noite. Noite longa e louca, diga-se de passagem. Cumprimentou-o, como bom rapaz educado que tentava ser.

- E ae, beleza?
- Opa, tudo bom, tranquilo?
- sim, vai usar o banheiro? - estava ansioso pra mijar e esperava que ele cedesse sua vez
- é, vou.- e deu uma risadinha desconfiada e meio nervosa, o que deixou tudo claro. Então, jogou a verde.
- e o que vc me diz?
- depende do que vc quer ouvir.
- ah, quero ouvir várias coisas


Esqueceu completamente que precisava drenar o lagarto e o acompanhou até a esquina. Por alguns segundos se sentiu como a menininha bonitinha e gostosinha que os caras dão de um tudo só pra agradar e tentar comer ela. É, mas no caso ali seria um pouco diferente. Ora, não é todo dia que alguém que não é bem seu chapa aparece com Karatê Boliviano assim do nada.


Foi à esquina, agradeceu, perguntou sobre o canal e voltou pra cervejinhas.

É, foi só isso mesmo.
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