quarta-feira, março 22, 2006

Esperta.

Atravessou todo o bairro com um andado mole, despreocupado, como se caminhasse do quarto pro banheiro. Chegou na bocada, comprou duas balinhas e se mandou. Não estava muito apressado mesmo, sentou numa parada de ônibus e fumou como se fosse mais um saído dos bolsos dos transeuntes. Ficou abobalhado com o movimento e sequência de nomes, cores, formas que passavam pela rua e tentou, maravilhado, achar o padrão que regia toda aquela loucura e se perguntando como nunca havia percebido aquilo antes. Depois de alguns minutos o mafú mostrou-se não pertencer à classe progressiva e percebeu que era só viagem. Foi no telefone público próximo. Ficou lá parado, de migué, olhando pra entrada do prédio.

Apertou alguns botões, olhou algumas bundas passantes, passou dois trotes e enquanto olhava pra baixo pensando no terceiro número, viu aqueles tornozelos passarem ao seu lado, lá perto do chão. Imediatamente largou o telefone, deu dois passos até ela e segurou-a por ambos os braços, apertando, sacudindo, olhando arregaladamente pro fundo daqueles dois poços cor de mel e disse:

- Se você percebe tudo, esperta, então porque não acaba com essa palhaçada ?
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domingo, março 12, 2006

Convite Estranho, ( o que um mafú não faz)

Av. da Universidade, quase duas da manhã. Venho andando, me sentindo muito bem pelas coisas lagais que acontecem e olhando para os lados para achar o meu transporte pra casa pela bagatela de 5 reais. Prefiro os de 80 centavos, mas a essa hora eles desisitiram de passear por ai. Tudo bem, já tinha tomado algumss cervejinhas, só três, mas experimente ingerir 1800 ml de cerveja sozinho e vejo o resultado na sua cabeça. Quem sabe não dê nada, mas em mim sei que me muda completamente o modo de ver as coisas e principalmente a coordenação motora.

Então, vinha eu andando calmamente esperando algum moto taxi cruzar, ou melhor, ir na mesma direção do meu caminho; em uma mão um pequeno papel dobrado com um pouco de mafú dentro, e na outra a velha "colimi", e sobre a minha cabeça a noite, vazia e perfeitamente propícia a uma boa caminhada. Em passes rápidos, faço aquilo alí virar um canudo recheado e com ajuda de transformações químicas faço ele virar um vapor que me evita ter ressacas nas manhãs seguintes e continuo andando e de lá longe, avisto uma bicicleta, alerta de placas, fico ligado, mas isso passa e continuo e vou indo e indo e vejo alguém aparecer do outro lado da avenida, na calçada da reitoria mas percebo que não é um placa, apenas um cara passando e ele percebe que estou com algo na mão que está acesso e pede, quer dizer, faz um sinal que nem lembro qual foi mas que me fez entender que ele queria um acender um cigarro.

tudo bem, olho para trás para ver se não vem nenhuma lata de metal em velocidade e começo a atravessar a rua para fazer esse pequeno favor a esse estranho e vejo aquela solitária luz pontual ao longe e se aproximando e vejo que pode ser a minha chance de ir pra casa e e vou em direção ao cara e deixo a minha caixa de fósforos e o mafú com ele dizendo "segura ae" e vou falar com cara da luz, que me cobra sempre mais do que eu estou disposto a gastar para chegar em casa, mas sei que isso faz parte do pequeno teatrinho da noite quando o assunto diz respeito a ser deixado em casa mediante a uma leve entrega de papéis e combinei a quantidade de papéis que devia entregar e voltei para pegar a minha caixa de fósforos e dar mais uma apreciada no meu mafú e o cara diz:

- Vai por que quer, né? Moro aqui no benfica. - finjo que não entendo e respondo:
- Pois é, vou nessa.

O cara é doido? como alguém convida outra pessoa que acabou de encontrar na madrugada para dar abrigo? Até pensei que seria uma boa, economizaria 5 conto e tudo mais, mas ai v que tava viajando tanto quando o cara e sai fora. O cara não parecia ser nenhum louco, apenas um cara eu ficou agradecido por eu ter feito a dele naquela hora. Acho que ele nem por um momento achou que fosse aparecer alguém de simplesmente dar mafú pra ele. Espero ter a mesma sorte que ele um dia. Fui pra casa.



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sexta-feira, março 10, 2006

Diálogos.

- Cara, acho que consigo ser mais interessante que um Exidas.

- Vai ter que aprender a surfar passar parafina no cabelo e falar "broder". E ouvir reggae.

- É cara, coloquemos "broder" em nossos vocabulários e as bucetinhas sorrirão pra gente.

-Garotas não gostam de nerds. Elas gostam de caras bronzeados...que curtam praia... que falem de espiritualidade e verde...natureza. Essas coisas.

- Acho que eles param de fumar para se sentirem mais verdes.

-E também tem que ser politizado, falar de pt, samba e chico buarque. Aí sim quem sabe.

- Sabe, tinha uma garota lá que era tipo ela, só que era uma cheira cola... mas tava namorando com um hippie lá daqueles de rasta e que fazem aquelas pulseirinhas mó paia.

- Caracas!

- Ee num ficou comigo porque tava com esse figura ae...

- Que triste..

- foi muito triste...

- Esses hippies de pulseirinhas são os piores. Tenho vontade de chutar todas aquelas cabeças cabeludas.

- é.
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quinta-feira, março 09, 2006

Coisas.

Voltando pro orkut e passeando entre fotos e nomes e perfis pré-moldados, senti e vi velhas, presentes e quem sabe futuras feridas... às vezes me pergunto porque diabos ainda tenho memória, porque não posso simplesmente deixar toda a merda secar e não sentir nada ao ter contato com ela... sabe, depois de um tempo deveria parar de feder, mas não... parece que está sempre lá, esperando para te lembrar que não é bem assim, dizendo "você não vai fugir fácil de mim".

Olhei algumas fotos. Fotos de outras pessoas. Lembrei de como eu era diferente. Ingênuo. Besta. Ainda tinha a capacidade de acreditar nas coisas, de achar que algo poderia se perpertuar e ser bom ao mesmo tempo and so on, so on... Doce ilusão. E enquanto olhava, para a minha maior surpresa (ou não) senti rancor, ironicamente alimentado pela minha (há muito tempo adotada) indiferença em relação a isso.


Vi ausência de algumas fotos. Uma pena, mas tinha que ser assim. Não poderia de nenhuma forma ser diferente e não posso esperar que seja diferente. Apenas me senti triste. Triste por tudo, sem pontos específicos. Triste por mim e pelas pessoas atingidas quando as minha merdas batem no ventilador. Não era pra ser assim. Não quero que meus atos influenciem na vida de ninguém e não quero a minha influenciada por atos de ninguém. Apenas neutro, fazer parte do cenário e nada mais.

Mas acho que nunca vai ser simples assim.

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sexta-feira, março 03, 2006

O ùltimo Caso de Edgar Borges - Parte 2

Ainda tentei dar dois tiro no bixo, mas segundo engasgou e o primeiro passou longe, indo tirar um pedaço da parede. Com dois passos rápidos consegui pegar a garrafa de vodka que estava em cima da mesa de café, com metade da sua capacidade cheia. Não queria fazer aquilo, era uma bela bebida multi-destiladas em pedras semi-preciosas e achei bom dar uma bela tagalada antes de concretizar meu pequeno plano desesperado de fuga.

Senti a aquilo me queimando por dentro quando ouvi o barulho vidro se despedaçando em milhares de pequenas partes nos pés da estante. Peguei meu isqueiro, um daqueles que você não precisa pressionar nada pra manter a chama rolando e joguei onde o líquido havia se espalhado. Não foi bem o que eu esperava, na verdade pensei que teria poucos segundos pra sair dali antes que tudo fosse consumido pelo fogo, mas não, a porra do isqueiro ficou lá, com o fogo saindo e nada mais.

Lembrei da coisa que tava em baixo da estante e corri pra porta, dei fora sem olhar pra trás. Pulei o muro dos fundos e corri por três quarteirões até ficar comletamente sem fôlego e parei. Entrei em um pequeno beco sujo e me apoiei com a mão na parede para descansar, e fiquei um pouco curvado, estava cansado, estava difícil respirar. Comecei a me sentir muito pesado, a visão começou a ficar turva e as pernas tremiam como num bom orgasmo. Pena não ter sido uma trepada que me deixara naquele estado. Sabia que não podia apagar. Cai de joelhos, o peito começou a arder mais que antes. De joelhos, ofegante, vi que não me levantaria dali tão cedo. Procurei o telefone no bolso do sobretudo que usava teimosamente nessa cidade quente, mas tudo que achei foram os cigarros. Merda, meu isqueiro havia ficado no quarto. Peguei o telefone no bolso da calça e apertei o número um. Chamada programada.

- Alô? Jorge? porra, preciso de ajuda. To no beco da 24 com aV. Sá União, to mal. não posso explicar agora.
- O que? ta de brincadeira? o que eu tenho a ver com isso?
- Qual é Jorge, você me deve essa. Eu dispensei a Júlia. E olha qua ela tava afim e nem era mais tua pequena - tentei lembrá-lo dos meu lapsos de consideração pra tentar despertar sua compaixão para com o próximo- quebra esse meu galho!
- sai fora, porra! - cortou ele secamente - você pensa que eu não sei que você fodeu ela na festa do Edu, aquele cheirador de pó mirrado? E além do mais, eles estão na tua cola. Não quero ter problemas com eles também.
- te pago, ta ok? e prometo parar de foder sua mulher.
- Não Edgar. Dessa vez você está sozinho. - e desligou o telefone.

Fim da Parte Dois.




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