Sei que não devia, mas sei lá porra, foi forte, muito mais forte do que eu e liguei, talvez pela sei lá quantas cervejas que bebi e na hora de ir embora, senti aquele velho maldito aperto e vazio, sim, como dizia meu bom Chet, aquele void, ah empty space, e não importa com quantas garotas você tenha se divertido nos últimos dias e o quão safadinhas e lindinhas elas tenham sido, sempre falta algo e é nesse iato que lembro dela.
Liguei.
Chamou, chamou e chamou. Era mais de meia noite.
Hehehehe, claro que ela não ia ficar vendo os dias passarem, ora pois, nos dávamos muito bem pela nossa afinidade no que diz respeito a sacanagem e entendo perfeitamente a sua vontade de provar outros, outros paus e tudo mais, e sim, tanto quanto eu, ela preza por prazer e está se divertindo. Venho tentando fazer o mesmo.
Um cara atende.
- Quem ta falando? - diz o rapazinho, cheio de poder - afinal, como eu viria saber logo depois, ela estava dormindo, e claro, deve ter rolado uma trepada antes. Se não rolou, vacilo deles.
- quero falar com o dono desse número. - disse eu, com toda a audácia que veio ao meu peito indignado, afinal de contas, não era eu o homem da vida dessa garota, segundo suas próprias palavras? tenho esse problema em insistir em acreditar nas pessoas.
-Quer falar com quem? - repete o rapazinho, ainda cheio de poder.
Tudo bem, ele acabou de foder, tudo bem, sei como é, já fiz isso várias vezes, várias, de várias maneiras que talvez você nem imagine como nem onde, uhuhuhu, sim, sim, sim, várias ô rapazinho e podia até te dar alguns toques de como deixar ela mais do que satisfeita, sim, sim, podia mesmo. E trepar com uma gatinha como ela te faz sentir bem, sim faz mesmo, ainda mais quando vc está apoaixonado por ela.
Te dá a boa ilusão de poder.
- Ora porra, com a dona do número, Cacete! - digo eu, já sem saco pra esses joguinhos. Quer foder, foda - eu só preciso falar com ela!
- Sai fora - ou algo aprecido - diz o cara, não lembro, juro que não lembro, não mesmo, ou foi algo como "dá um time", sei lá, foi algo do tipo e tudo mais e desligou.
Então, o que aprendemos hoje?
Ah, de qua adianta, de que adianta... e me vem a pergunta, a mesma pergunta que ela carregava virtualmente:
O que é o amor?
ai lembro do Satanás, do Mike e do Caetano, anos atrás, numa esquina qualquer, enquanto escondiam uma carta na pochete do Satã...
O amor é uma flor roxa
que nasce no coração
dos trouxas.