quinta-feira, agosto 25, 2011

O fino e a Pedra.

Que perco a paciência e explodo com muitíssima facilidade não é novidades para aqueles que se dão o trabalho de fazer parte do meu mundo. Mas às vezes tem coisas que faço que quando recobro a noção... olho e penso "puta merda, o que eu fiz".

Alguns dias atrás vinha eu calmamente na minha possante (ou "cachorrinha" como dizem em Sobral) curtindo a brisa que sai dali do parque do cocó, conversando com minha garota à caminho de um delicioso almoço e uma tarde mais agradável ainda na sua casa quando vejo pelo retrovisor uma coisa prateada vindo em velocidade, buzinando como se alguém tivesse morrendo ali dentro. Puxo para direita, recebo um fino do caralho e ele passa. Mais alguns centímetros e eu sentiria como é ter a carne lixada por asfalto quente. Porra, aquilo me levou de zero a mil em sei lá quão rápido.

Eu vinha na minha, de boa, tranquilo, devagarinho e pela direita como manda o código de trânsito, aproveitando a manhã e aquela figura me ignora completamente e joga o carro por cima de mim como seu eu estivesse totalmente errado. Não se eu seja louco por ordem e leis e normas e convenções, mas jogar um carro em cima de um motoqueiro é equivalente a apontar uma arma pra cabeça dele ou qualquer coisa escrota e que possa fuder a vida dele direitinho.

O que fazer? automaticamente me vêm a ideia de acelerar, seguir aquele filho da pura e dar um bicudo na porta dele. Falando em chute em portas de carro isso me faz lembrar um dia no Pitombeira que Barkoquebas deu corda prum cara que parece com o Frodo revidar algo e esse, com sua ingenuidade estampada na cara de pivete, deu uma voadora com os dois pés na porta de um Corolla de uns playboys que por lá bebeiam, tudo isso por causa de uma menina que gritava "eu quero dar o cú"e quase arranjou uma bela surra e problema com a polícia e não lembro bem o desfecho do lance, só da atitude sem noção do figura. Então, acelero, faço a curva na boa, me esgueiro dos outros carros pra não perder distância e logo no fim da ladeira depois da curva, em frente a mesma rua que entro pra seguir meu caminho, o carro estava parado por causa do trânsito.

Vou pra lateral do carro e começao a xingar, botar aquela raiva pra fora demonstrando todo meu conhecimento de palavras de baixo calão do português, já que a ideia do chute foi abortada porque tinha muita gente ao redor e tive me de ser seguido e atropelado. O que era impossível, o trânsito se encarregava disso. Olho pra janela e apesar do vidro escurecido vejo uma garota ouvindo forró bem alto dentro do carro, dançando e fazendo gracinhas, frescando com a minha cara, na maior curtição.

Fazia tempo que não sentia tanta ira e se você quer fuder os outros, tem que ter em mente que os outros vão te fuder. A distância entre eu e o carro era muito grande pra qualquer ataque físico - a idéia do chute voltou automaticamente - e ainda tinha um motoqueiro mais ou menos entre nós. Nada de portas amassadas, então. Olhei pro chão e vi um paralelepípedo (uma palavra que tenho certeza que não consigo pronunciar) no chão, fragmento da cratera que se abria ali perto. Quando me abaixei pra pegar a pedra vi o motoqueiro se afastar um pouco para trás, ou com medo de sobrar pra ele ou em algum ato de camaradagem motoqueira. Olhei pro vidro traseiro, ali, pretinho, brilhando ao sol, frágil, frágil, muito frágil ao peso daquela pedra. Mirei e arremessei.

O foda é que a pedra era bem mais pesada que eu imaginava e o arremesso saiu meio débil, fraco. Não foi como eu havia imaginado, como um tiro - ela percorreria uma trajetória retilína e certeiramente esbagaçaria o vidro; ao invés, a pedra foi percorrendo um arco, criando tensão se acertaria o alvo ou não.Consegui errar o vidro traseiro por centímetros e a pedra pousou na base do vidro, na lataria e afundou bonito. Ficou como a marca de um punho que fora enterrado ali.

Depois do baque surdo me dei conta do que tinha feito. Virei a moto e sai noiado com o medo de ser atropelado tomando de conta. Acelerei sentindo a falta das cilindradas que sempre sonhei e olhei pelo retrovisor pra ver se alguém me seguia, vii uma moto vindo, mas não sabia se estava atrás de mim ou apenas seguia a mesma direção,mas não importava, acelerei mais ainda tentando sair dali o quanto antes. Depois três curvas estava na frente do prédio da minha garota esperando o porteiro abrir o portão, esperando, esperando, esperando e pela primeira vez agradecendo pelo o trâsito de Fortaleza ser essa sequência eterna de engarrafamentos.

Serviu de lição, pelo menos eu acho. Tenho pra mim que não mais jogarei objetos em carros, assim como parei de dar cotocos pra motoristas barbeiros que brotam como água de merda dos bueiros da cagece pela cidade; não, não meu garoto, não farei mais isso.


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quarta-feira, agosto 03, 2011

Cerveja.

"Priquito de lêndia"... é o que Velho Leon me diz quando peço pra ele começar. Vamos tentar mais uma vez:

não sei quantas garrafas de cerveja
consumi esperando que as coisas
melhorassem.
não sei quanto vinho e uísque
e cerveja
principalmente cerveja
consumi depois
de rompimentos com mulheres -
esperando o telefone tocar
esperando o som dos passos,
e o telefone nunca toca
antes que seja tarde demais
e os passos nunca chegam
antes que seja tarde demais
e o telefone nunca toca
antes que seja tarde demais.
quando meu estômago já está saindo
pela boca

(...)

enquanto enlouquecemos
elas saem, dançam e riem
com caubóis (ou inexperientes ou atletas ou hippies ou freaks ou metidos à espertos ou caras
como eu) cheios de tesão

(...)

cerveja
rios e mares de cerveja
cerveja cerveja cerveja
no rádio toca canções de amor
enquanto o telefone permanece mudo
e as paredes seguem
paradas e estáticas
e a cerveja é tudo que há.

(pg. 284, O amor é um cão dos diabos - uma tradução cretina de título)


Caralho, queria ter escrito isso.
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