quinta-feira, abril 22, 2010

AIESEC nunca mais!

E eram duas filas, uma de frente pra outra, ambas seguindo caminhos sinuosos no pátio ao redor da piscina. Uma andaria, a outra ficaria parada, perguntas seriam feitas e a ressaca me massacrava enquanto eu observava todos aqueles garotos e garotas embriagados com a idéia de se tornarem "líderes". Estava nauseado e me perguntava que porra eu fazia ali. Com sono, só pensava na minha cama e de como eu apagaria em cima dela. Doce sonho impossível, ô merda, como eu queria sair dali. Era como uma maldita viagem no tempo, me vi novamente nos dias em que frequentava o curso de administração. Não podia haver pesadelo pior: o ônibus de volta so sairia no dia seguinte, às seis da tarde.

Tentei esquecer a dor no corpo - o Karatê boliviano da noite anterior acabava comigo - o sono e a luz que atacava meus olhos e entrei no jogo, me deixando levar pelo movimento da fila e pelas perguntas gritadas: " o que você já roubou nas americanas?" E a meninha de 19 anos na minha frente diz entre sorrisos débeis que só roubara chocolates e vejo esse mesmo sorrisinho bobo desvanescer à medida que listo os ítens que já surrupiei. Entre risinhos bestas ela me chama de meliante e tenho a certeza que no fundo ela falava sério. Mais algumas perguntas e a fila andou e desliguei minha mente. Não valia a pena gastar energia com aquelas pessoas.

O resto da tarde foi a pior tortura que nunca poderia imaginar: Uma longa exposição em slides do Líder e suas características e obstáculos e desenvolvimento; a importância da posição de liderança, as metas a serem atingidas, e resultados, e maximizar a eficiência e blá, blá. blá, e a cada palavra daquele carinha com aquele papo altamente pasteurizado eu me sentia cada vez mais engando, pois não tava ali praquela merda toda. Tudo que estava atrás era a chance de conseguir um intercâmbio e cair na estrada.

E lá estava eu, nas brenhas no Euzébio, de ressaca e com apenas uma hora de sono nas últimas 30 horas e ainda tinha pago 40 reais pra participar dessa demência, pensando, lacerando meu cérebro de tanto pensar em como fugir dali. Mototaxi? ônibus? sair correndo no meio daquele mato? puta merda, começava a ficar louco. Ouvi um barulho de moto dentro do terreno da casa. talvez alguém me desse uma carona até o ponto de ônibus mais próxima. Aquilo me encheu de esperança. Porém tinha que esperar até a hora do almoço pra tentar a fuga.

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