quarta-feira, dezembro 14, 2011

Fracassos.

-Eu gostaria que você comentasse um pouco a parte na qual você fala da focalização na sua pesquisa. Assim como sabemos - e começou a citar nomes em francês, nomes que eu não sabia se se referiam a obras ou autores - isso pode ser contestado e tal e tal, continuando a falar. Percebendo que eu boiava, ele retomou a pergunta. Aquela seria a única gentileza naquela sala.

Falei o que deveria ser dito, expliquei meu ponto de vista e de como eu achava que aquilo seria um ponto de análise interessante entre o livro e filme que constavam no meu projeto e ele confirmou com a cabeça de um modo que eu poderia encarar como simpático. Então, uma professora sentada entre os outros dois folheava meu projeto displicentemente e diz :

- Mas seu projeto está muito fraco! a bibliografia literária é muito pequena. Quando se fala em focalização, você cita apenas um autor.

Nesse momento senti o peso de todas as tardes que passei ou na Science mafusando ou na casa de uma ex namorada durante os anos de graduação. Demora, mas a conta chega. A falta de leitura cobrava seu tributo ali, sim, e fazer o quê? improvisar.

- bem, tive dificuldades para encontrar a bibliografia necessária - isso era verdade.

- Você não leu nenhum outro autor?

- sim, li Genette.

- E porque não o cita na bibliografia?

- o autor citado na bibliografia aborda os conceitos de Genette nos seus postulados.

Acho que foi a única frase acadêmica que consegui produzir durante a entrevista.

-Não acho que você terá tempo de rever certos autores durante o curso.

O primeiro professor voltou a se pronunciar. Esperava que ele me perguntasse alguma outra coisa sobre meu projeto que não fosse sobre a parte de literatura pra que pudesse melhorar meu filme ali. A parte de litetura estava fraca, mas o resto estavava bom. Mas quem disse que eles tocariam no assunto?

- Qual a sua disponibilidade para o curso?

- integral. passei toda minha graduação estudando e trabalhando e percebi que não dá muito certo. pretendo me dedicar totalmente ao curso.

- Olha, eu fiz minha graduação, mestrado e doutorado trabalhando. É uma questão de organização de tempo. - disse a mesma professora que dissera que eu não teria tempo pra rever certos conceitos. Peraí, vai dar tempo pra trabalhar e não pra estudar?

Fiquei calado. Eles torciam o lábio, fazendo uma cara de "que merda" enquanto folheavam meu projeto. ah, meu projeto. O terceiro professor se manisfestou. Ele tinha uma cara de quem tem alguma coisa presa no cu e não está muito feliz por isso. Anos naquela faculdade e eu nunca havia visto aquele figura, um professor de latim.

- E qual meio você vai dar mais atenção? a literatura ou cinema?

- Pretendo manter os dois no mesmo patamar.

ora bolas, a linha de pesquisa não é de tradução? E ele continuou.

- Mas você não acha que, se tratando de um curso de mestrado em Literatura, você não deveria dar mais atenção à Literatura?

Percebi a merda que tinha dito, mas não podia voltar atrás.

- Bem, pensei que se tratando de uma linha de pesquisa em tradução, eu pudesse manter os dois no mesmo patamar, sem nenhum juízo de valor.

E acho que com isso assinei a minha derrota. Acho que não disse o que eles queriam ouvir. Onde já se viu professores de literatura deixarem seu tão adorado objeto de estudo se equiparar com uma arte considerada entretenimento para as massas?

Fracasso, apenas mais um entre tantos nos últimos 2 anos. ou seriam 28?



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